quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

POLICIÁRIO DE 21 DE JANEIRO

 


TRÊS ARMAS DISPARARAM…

Autor: Sete de Espadas

 

Dois vultos recostavam-se no alpendre da característica «TAVERNA NEGRA», agora fortemente iluminado. Ela, esplêndida de beleza e juventude, cabelos louros soltos ao vento, sorria maliciosamente. Ele, de porte correcto, olhava-a num misto de carinho e admiração.

Diziam as más línguas, que Divonne, a linda esposa do Embaixador da Sinésia, mantinha um romance de amor com o jovem escritor Phillip Carr – cujos romances eram disputados por multidões.

Para lá do alpendre, na fita negra da estrada, fortemente batida pelo vento e pelos aguaceiros daquela extemporânea trovoada dos fins de Agosto, esperava-os o potente e bem delineado «torpedo» do escritor.

 

Minutos antes, lançado como um bólide pela estrada que sai de Bordeaux  e passa junto à «TAVERNA NEGRA», indiferente à intempérie, seguia um potente carro negro e nele, de sobrecenho carregado, maxilas cerradas e mãos enclavinhadas no volante, o conhecido e distinto capitão-tenente Gilbert Rouhen, a quem o país devia o estranho invento do «submarino aquático-terrestre…». E Gilbert, pensava naquele estranho telefonema… E diziam também as más línguas, que Gilbert, odiava, com um ódio de morte, o romancista Phillip Carr… As altas esferas, por sua vez, temiam o evidente contacto que existia entre Rouhen e essa sereia estonteante e perturbadora, que era a esposa do Embaixador estrangeiro…

 

Quando a noite já há muito tinha caído e com ela a enervante tempestade de Verão, um carro escuro seguia a pouca velocidade, pelo desvio da estrada que a poucas centenas de metros cruza com a estrada de Bordeaux, para além da «TAVERNA NEGRA»… Ao volante desse carro, preocupado com estranhos pensamentos, o Embaixador de uma potência estrangeira – que é, às vezes, um espião autorizado…

 

A poucos quilómetros da «TAVERNA NEGRA» e a caminho de Bordeaux, numa curva caprichosa da estrada, Phillip nota com assombro que à sua frente está parado um carro, ligeiramente atravessado na estrada, a meio da curva, e com os farolins apagados. Solícito, Phillip pára o seu carro, sai e avança pela estrada para prestar auxílio…

De repente, numa sucessão estranha e terrível, os relâmpagos aliam-se a fortes trovões; os raios descem para a terra em zigue-zagues estonteantes, como se tudo aquilo estivesse possuído de terrível magia e fosse uma horripilante visão do inferno… 

Depois silêncio… um silêncio que fazia calafrios, no intervalo duma tempestade de verão – presságio de morte, cortado violentamente pelo escape aberto dum carro que se afasta a toda a velocidade, a caminho de Bordeaux, farolins apagados…            

Na fita negra da estrada – agora iluminada pelos faróis de dois carros… - estendido de bruços, o corpo do romancista Phillip Carr…

 

À volta deste complicado caso, todos os «repórteres do crime» especularam aos seus jornais, com títulos a toda a largura das páginas.

Um dizia: «Uma bala perdida no interior dum carro?», referindo-se ao carro de Phillip, que no lado direito do pára-brisas tinha um furo de bala, a 38cm da porta, cujo vidro estava descido. Por mais que se procurasse no interior do carro, não foram encontrados vestígios de penetração ou impacto.

Um outro, em três edições sucessivas, dizia: «Três armas, cujas linhas de fogo interceptavam o mesmo alvo…»; «Fogo cruzado… numa curva!»; «Três conhecidas personagens, fazem fogo «sincronizado» com a tempestade…!» Transcrevia as declarações de todos eles, onde cada um afirmava que disparara a sua arma, nada mais acrescentando quanto à direcção do tiro.

Um terceiro, talvez humorista, dizia: «Um carro com dois orifícios feitos por balas… mas só uma aparece». Este repórter, seguindo a pista do carro fugitivo, veio a fornecer valiosos elementos para o processo, porquanto, foi ele que descobriu o carro de Rouhen e verificou um furo de bala no vidro da porta do lado esquerdo, junto ao volante e no banco de trás, a penetração de uma bala, junto ao suporte do braço do lado esquerdo, a qual se foi alojar do lado oposto, junto à extremidade do outro suporte. 

O quarto, fazia a seguinte pergunta: «De onde partiu o tiro que vitimou Phillip Carr?» Depois espraiava-se em comentários acompanhados por um grande «croquis» de curva, com três carros, o corpo do romancista e as possíveis trajectórias das balas – uma das quais também tinha atravessado o pára-brisas do carro do Embaixador – assegurando com toda a convicção que sabia, como e para quem tinham atirado cada um dos suspeitos – deixando antever nas entrelinhas, a posição da arma assassina. 

 

Do relatório de um perito, constava o seguinte:

- A vítima foi atingida por duas balas, uma das quais provocou morte imediata, atravessando-lhe o cérebro e a outra raspou transversalmente o braço esquerdo, passando entre este e o corpo a 5cm acima do cotovelo, fazendo dois furos no casaco e um esgaçamento no tecido da camisa.

 

Por mim, resta-me dizer-lhes meus caros Colegas, que o nosso conhecido «detective particular» Alexis Smith, de passagem por França, escrevia numa das suas cartas: - «Com os dados que te envio – eu juro que os transcrevi todos – poderás fazer uma solução absolutamente correcta e responderes com segurança às seguintes perguntas» - que eu também transcrevo na íntegra:

 

1.ª – RECONSTITUE A CENA DO CRIME.

2.ª – INDICA-ME A TRAJECTÓRIA DAS BALAS E QUAL O OBJECTIVO DE CADA UM DOS QUE DISPAROU.

3.ª – FINALMENTE, INDICA-ME O CRIMINOSO.

(Solução na próxima semana)


1948 - SETE DE ESPADAS NA REVISTA “ALTURA”

 



Em Setembro de 1948, publicava-se no Porto mais um número da revista ALTURA, que falava de um “Concurso do Problema Policial”, nestes termos:

“Da autoria do concorrente SETE DE ESPADAS, publicamos a seguir o 3.º Problema deste Concurso. Dada a complexidade dos “pontos de vista” dos nossos prezados detectives concorrentes, dada a “pormenorização” de detalhes que muitas soluções apresentam, algumas das quais, diga-se com justiça, merecem atenção especial pela maneira como são expostas, vemo-nos forçados a modificar um pouco o critério de classificação – para não cometer injustiças, dando o mesmo valor a uma dedução excepcional que se dá a uma solução correcta, ou não dando nenhum a uma solução incompleta, mas inteligente na parte resolvida. Assim, achamos melhor passar a guiar-nos por um critério mais livre, que, embora partindo do valor 1 ponto para a solução correcta, seja suficientemente “elástica” para dar ½ ponto aos que satisfaçam em parte e 1 ½  até 2 aos que ultrapassem a craveira média.”

 


A explicação para esta mudança vem depois, num quadro dos concorrentes classificados na solução de outro problema, em que aparecem com 2 pontos, por conseguinte com uma solução excepcional, apenas cinco detectives: SETE DE ESPADAS – Agualva; Raon – Seia; K120 – Oliveira do Douro; Francisco Elvas Duarte – Lisboa e Repórter Mistério – Évora.

 


Para além de produtor de problemas policiais de mérito reconhecido, como fica bem vincado no problema de sua autoria que hoje publicamos e que saíu neste número da ALTURA, o SETE DE ESPADAS era, já nesse tempo, um magnífico decifrador.




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