Torneio Sábado Policiário 2020
Prova n.º 10 (última) – Parte I
O INSPECTOR FIDALGO E O CRIME EM DIRECTO
Jorge Figger é um dos
rostos mais conhecidos nos mundos complexos da Finança e do chamado jet-set.
Rico até mais não, acumula a
particularidade de ter passado por um processo educacional de excelência, nos
melhores colégios a nível mundial, sendo apontado como um dos maiores exemplos
de cumprimento das regras da boa educação e dos protocolos, mesmo os mais
rigorosos. De uma simpatia a toda a prova, não lhe é conhecido um único
deslize, quer no relacionamento com outros vultos da chamada aristocracia, quer
nas relações com empregados ou com o mais comum dos mortais.
Por outro lado, a sua assumida paixão pela asa-delta, de
que é exímio praticante, fá-lo acumular uma enorme quantidade de aparelhos e
equipamentos, que agora estão em exposição pública num armazém da cidade do
Porto, o que aumenta a sua popularidade junto da malta mais radical.
Jorge partiu para os Açores. Resolveu sair pela
primeira vez após um acidente relativamente grave, sofrido no dia da
inauguração da exposição e que o retirou da circulação durante cerca de um mês,
tempo em que não saiu da sua mansão, algures para Cascais. Foi ao encontro da
sua namorada, uma açoriana da Horta a quem ia fazer uma surpresa. Mandou a
tripulação preparar o seu jacto particular,
acabado de regressar de uma rigorosa inspecção.
Infelizmente para Jorge, uma violenta tempestade nos céus
desviou o voo para a Ilha do Pico, sendo todo o tráfego proibido, logo a seguir…
Na cidade da Horta, a escassos quilómetros dali, sem nada
saber da tentativa de surpresa, Maria da Graça estava em casa, sentada ao
computador, em cavaqueira informática com amigos.
Passava um pouco das 20 horas e o Inspector Fidalgo
estava sentado num banco corrido, olhando para o monitor de um computador
portátil que emitia imagens obtidas por uma câmara Web, numa gravação iniciada
às 10h15. Via-se uma moça bonita, sentada em frente de um computador, que
dedilhava com destreza. De vez em quando erguia o rosto que ficava no
enfiamento da câmara, revelando toda a sua beleza.
Subitamente, ergueu-se e saiu do campo de visão,
regressando pouco depois, enquanto um vulto alto, cerca de 1 metro e 90,
envergando uma espécie de fato-macaco de cor avermelhada, apareceu na imagem,
de costas, rumando ao fundo da sala, onde era visível uma porta que, uma vez
aberta, revelou ser uma casa de banho. O vulto levantou a tampa da sanita e,
sempre de costas para a porta, demorou algum tempo a urinar. Depois, vê-se a accionar o autoclismo e a virar-se para o seu lado
direito, debruçando-se ligeiramente sobre um lavatório onde lavou as mãos,
esfregando-as de seguida contra o fato, para as enxugar, antes de avançar
em direcção à moça que continuou a dedilhar
o teclado até se abater sobre ela um objecto parecido
com um pé de cabra e ela desaparecer do ecrã. Uma segunda arremetida do objecto, desta feita sobre o computador, fez terminar a
transmissão.
– De onde apareceu isto?
– Foi aquele moço, ali ao fundo. Estava a comunicar com a
rapariga, que estava nos Açores, na Horta, quando gravou estas imagens… Até a
rádio já fala disso, parece que mete um tipo da “alta”, tudo se encaixa como
uma luva!
– Foi o senhor que registou estas imagens, não é verdade?
– Sim, senhor.
– Porque não veio logo?
– Senhor inspector, só há
pouco vi as imagens. Estava a comunicar com a Graça, mas tive de me ausentar,
fui à casa de banho e depois aproveitei para ir comer alguma coisa. Quando
cheguei, já não havia imagem, julguei que ela se tivesse ido embora e não
pensei mais nisso. Ao ouvir nas notícias da rádio que se tratava da namorada de
um conhecido multimilionário, percebi que era ela e fui ao computador recuperar
a gravação que costumo fazer sempre que me afasto do computador. E vi isto.
– Deixe ver se percebi. O senhor grava as imagens quando
tem que se afastar, mas não grava quando está lá, é isso?
– Sim, senhor inspector.
– E som, não tem?
– Não, só texto e imagem.
– E não teve curiosidade em ir ver se ela tinha mesmo ido
embora da comunicação?
– Não, senhor inspector, é usual que as comunicações vão abaixo quando há
temporais lá. E a Graça referiu que havia forte temporal. Não estranhei nada.
– Conheceu-a onde?
– Foi minha colega na faculdade e, quando regressou a casa,
ficámos amigos e vemo-nos na Net.
A meia-noite aproximava-se…
– Fui no meu avião aos Açores e tivemos que aterrar no
Pico, com muito mau tempo nos céus. Ainda no aeroporto tentei ligar à Graça,
mas ninguém me atendeu. Ela não deixa o telemóvel gravar mensagens. Depois,
consegui alugar lá um carro e fui dar uma volta, passar o tempo, ver se melhoravam
as condições para o voo. Antes, telefonei a um amigo da Horta, o Vasco, com
quem tinha combinado fazer esta surpresa à Graça e ele atendeu-me. Mostrou-se
muito decepcionado e pareceu-me nervoso,
mas ouviam-se os trovões em fundo e a tempestade estava terrível. Talvez fosse
por isso… Depois, a tempestade abrandou bastante mas só me deixaram rumar a
Lisboa. Não consegui nenhum contacto com a Graça e só soube da notícia pela rádio.
Estou arrasado!
– Esse seu amigo…
– O Vasco! É o meu melhor amigo. Foi através dele que
conheci a Graça, que era sua vizinha. É um amante da asa-delta, tal como eu e
esteve muitas vezes comigo em competições e eventos. A última vez que o vi foi
na inauguração da exposição de todos os meus aparelhos, no Porto, quando tive o
acidente.
– Já viu as imagens que temos?
– Sim, estou profundamente chocado…
– Vimos fotos suas, em competição, e estava com aquele
fato. Exactamente aquele!
– Aquele é o meu fato? Não pode ser, esse está na exposição
do Porto, ou pelo menos devia estar!
– E dos Açores chegou-nos a informação de que uma das suas
asas-deltas foi encontrada escondida a cerca de 100 metros da casa da sua
namorada…
– Não é possível! Peço-lhe imensa desculpa, mas isso é
impossível! Todo o material está exposto!
– Pois o seu capacete e o fato estão lá, na Horta, também!
– …
– O seu amigo Vasco tem uma compleição igual à sua e está
desaparecido. Não sabemos dele, ninguém o viu desde ontem à noite. Sabemos também
que a asa-delta, o fato e o capacete desapareceram da exposição logo no seu
início, mas nada foi participado à polícia…
– Senhor Inspector, temos as confirmações: o controlo aéreo do Pico dá a
hora de aterragem às 9h13 e de levantamento rumo a Lisboa, às 11h50. O espaço
aéreo esteve sempre encerrado, entre essas horas, por causa do mau tempo. Foi o
último a pousar e o primeiro a levantar. O aluguer da viatura foi às 9h35 e a
devolução às 11h18. Não conseguimos ainda confirmar a chamada telefónica que o Jorge
diz ter feito para o Vasco, por erro informático do operador…
E pronto.
Resta aos detectives fazerem a sua última investigação do
ano, deste género e responderem até ao dia 30 de Novembro para lumagopessoa@gmail.com ou, optando pela via postal, Luís Pessoa, Estrada Militar,
23, 2125-109 MARINHAIS.
Boas deduções!