TORNEIO DO
CENTENÁRIO DO SETE DE ESPADAS
PROVA N.º 2-B
UM CRIME NUMA TASCA RICA
Original de ABRÓTEA
O
dia estava a correr mal, aliás. Terminar os relatórios com algumas semanas de
atraso, ainda por cima sem nenhum dos meus homens. O pior era a Mara e o
“Baixinho”!
Pensei bem, hora de fechar a loja... pensei, apenas pensei... quando
entrou o Matos.
Parabéns avô Matos – exclamei – até parece que és tu o pai, mas enfim!
- Desculpa-me chefe, mas hoje é hoje, e nos outros dias temos andado em
cima de um assunto, que também te deve preocupar, nunca te falámos nada, porque
como vais perceber, tem que ver contigo, e com todos nós... Mas vamos até a uma
tasca que conheces bem – continuou o Matos – o resto do pessoal está lá, e é aí
que temos estacionado, só não fui esta manhã pelos motivos que sabes.
Sabia bem qual era a tasca. Velhas recordações vinham-me à cabeça, boas
e más.
Chegados ao local logo uma recepção ao Matos. Victor e Paulo estavam na
porta de entrada, mesmo aqui na rua ouvia-se perfeitamente a algazarra que
provinha do interior.
- Chefe, gritou o Paulo – venha cá, parabéns.
Ainda nem tinha reparado na minha figura, quando emudeceu, mandou-nos
entrar, quando começou a festa a sério. Foi então que o Paulo chamou a atenção
da restante equipe, pelos vistos estavam todos presentes, estavam felizes pelo
Matos, e por mim... não sei bem.
O detective Paulo foi o primeiro a interromper o silêncio que se tinha
instalado naquela sala.
Chefe, chefe, isto não é o que parece – falou o Paulo, com uma gelada na
mão. O inspector Matos também está a par da situação, mas hoje é o dia dele.
Rick, lembras-te do bando do “PEIXE S” – perguntou o “Doc”, e continuou
– aquele bando a quem cortaste a cabeça da “peixota” maior, mandando-a para
aquele lugar onde se olha o sol aos quadradinhos ...?
Sem o deixar continuar falei – lembro-me bem, mas o que é que isso tem a
ver com vocês passarem aqui dias e noites? Eu é que aturo o BIG Chefão, não são
vocês – resmunguei. Mas já sei que essa cujo nome não quero dizer, foi solta.
Sim, - exclamaram todos em uníssono – pouco mais de dois meses atrás, e
vem aqui como fadista, mas nem sabemos qual o fado que canta, porque naquela
sala, aquela lá em cima apenas se demora dois a cinco minutos no máximo.
Tempo suficiente para envenenar qualquer um dos que estão lá, pensei eu.
Quem são os frequentadores – perguntei apontando para o andar cimeiro.
Conheces todos eles, a tua tia só os reconheceu muito tempo depois, e
por causa das comidas, além da Célia Sargo temos diariamente e até altas horas
o Joaquim Salmão, Jorge Sargueta, Manuel Sardinha e António Safio...
Bela equipa – interrompi – e porque acham que hoje é o dia? Notaram
algo?
- Sim – a Safio não aparece há três dias, e todos eles nesses últimos
dias andam com uma carranca – responderam.
Levantei-me e dirigi-me ao bar onde
a minha tia estava atarefada a “sacar” canecas de imperial. Perguntei quem os
servia, e o que geralmente comiam, e ao seu ouvido mandei-a trancar todas as
portas menos a principal, algo estava prestes a acontecer... o Luis explicou-me
que os quatro nunca trocavam de posição, e que comiam sempre a mesma coisa. Já
era coisa de outrora, pensava ele, e um deles queria sempre o talher ao contrário.
Nisto um alvoroço, pois 3 dos nossos “procurados” procuravam escapar,
mas esbarraram na força da nossa equipe, faltava um. Mandei o “Doc” subir
primeiro, e encarei o meu velho Quim Salmão, perguntando qual a pressa? Apenas
a sua mão esquerda se movia, desde pequeno, um acidente danificara-lhe a
direita.
- Acho que houve um pequeno acidente lá em cima – respondeu. Vamos dar
uma vista de olhos, retorqui, e sem pressas.
No primeiro andar, num dos
reservados encontrava-se o “Doc”, acenou a uma pergunta muda, pois sabia o que
significava, na mesa, uma cabeça deitada sobre ela, respirava com dificuldade,
na mão um pequeno volume de sal, talvez para temperar a salada das suas
sardinhas assadas. Mas os pratos vazios, tanto a travessa da sardinha, como a
da salada, e até a broinha faltava. Apenas um prato cheio de espinhas e claro o
pouco das cabeças.
Nas costas, abaixo do ombro direito
uma faca espetada. De frente para ele, mas no lugar oposto, um prato com
espinhas grossas, algumas batatas assadas. No seu lado esquerdo um peixinho
frito, ainda com a cebolinha e azeite por cima. Na sua direita peixe grelhado,
com um pouco de alcaparra, alho, azeite e limão.
Fiz um sinal ao “Doc”, e este - Sabes quem foi não sabes Rick? –
perguntou o Victor “Doc”.
Sei sim, e os nossos detectives também...
E aqui fica:
A)
A Célia
B)
O Sargueta
C)
O Salmão
D)
O Safio
E pronto.
Aqui fica este desafio do confrade
setubalense Abrótea. Um detective nascido no “Mistério Policiário” do Mundo de Aventuras,
nos anos 70 do século XX, pela mão inevitável do Sete de Espadas e também
figura de proa do Charadismo e Cruzadismo.
Este problema, de escolha múltipla,
apenas exige que cada detective identifique a alínea que o resolve, sem
necessidade de qualquer justificação, que no entanto, pode ser dada pelo
concorrente.
A resposta terá de ser enviada
impreterivelmente até ao dia 31 de Março para lumagopessoa@gmail.com ou, se a opção
for pelo envio postal, Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS.
Boas deduções!
São muitos os exemplos de
contacto entre as diversas formas de prática dos chamados desportos
intelectuais e o Sete de Espadas incluía quase sempre problemas de Palavras
Cruzadas nos seus torneios.
Muitos charadistas e
cruzadistas passam pelo Policiário e não há sinais de grande atrito ou resistência.
Na verdade, o espírito que se vive no Policiário encaixa como uma luva no
conceito de “puxar pelas cinzentas” que todas as outras modalidades também
procuram.
Nomes enormes das
Cruzadas e Charadas, como o Mr. King (Big Ben no Policiário) a que já nos
referimos e o confrade que hoje assina o problema, Abrótea, não são casos
isolados. Podemos referir Zepote ou Amascar como outros exemplos, entre tantos.
(Abrótea, em pé,
ouvindo o Inspector Fidalgo
e o saudoso Rip
Kirby, num convívio no Barreiro)
Abrótea é, por opção, um
organizador, um confrade que segue com determinação o que o Sete de Espadas
sempre preconizou, ou seja, conviver sempre e em toda a parte que for possível.
Por isso vamos encontrar
o Abrótea na organização de muitos convívios policiários em Setúbal, onde vive,
sendo famosas as sardinhadas, bem como de encontros nacionais de charadistas e
cruzadistas, agora em “banho maria” devido aos efeitos da pandemia.
(Abrótea,
o segundo da direita, no convívio policiário de Setúbal em 1979)
No seu livro, recentemente
editado, “O Desafio ao Inspector Rick”, Abrótea define a sua aparição no
Policial, na primeira pessoa:
“Desde novinho habituado a ler BD, tomei o gosto pelo romance policial em meados de “78”, ao frequentar a Biblioteca Municipal e surripiar uns velhos livros da Vampiro, que guardo até hoje.”
Da mesma forma, muitos
foram os nossos confrades que se serviram das Bibliotecas Itinerante da
Fundação Calouste de Gulbenkian, único meio para terem o primeiro contacto com
a literatura policial.
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