quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

POLICIÁRIO DE 11 DE FEVEREIRO

 


TORNEIO CENTENÁRIO DO SETE DE ESPADAS



PROVA N.º 1-B

 

MEMÓRIAS

Original de: PAULO

 

O Luís Grandão foi e é uma personagem digna de uma obra ficcionada. Do alto dos seus 83 anos vai debitando memórias, muitas delas com mais invenção do que realidade, que todos os familiares ouvem com atenção. Luís Grandão foi um jornalista que percorreu os mais notáveis jornais nacionais deixando a sua marca de escrita em milhares de folhas de papel. Tanta diversidade de locais percorridos e factos relatados poderiam levar a pensar que Luís Grandão não tinha necessidade de inventar acontecimentos para os relatar, mas inventava, o que fazia parte da figura que ele incarnava.

Na sua personagem existia também o poeta. Luís Grandão achava-se um vate excecional e por vezes incompreendido. Gostava de juntar palavras em algo que ele chamava versos que depois acumulava para fazer um poema. E os familiares lá iam sorrindo de modo condescendente à sua inspiração artística literária. Sempre o tinham feito, e muito mais o faziam agora por respeito pela idade de Luís Grandão.

Da sua personagem fazia ainda parte a roupa que vestia, que funcionava como um uniforme e que ele nunca abandonara desde antes dos 20 anos. Quem o visse na rua, ou em trabalho, sempre o encontrava com aqueles elementos de vestuário, e, mesmo em casa, muitas vezes se encontrava vestido desse modo. Não podiam falhar: o colete cinzento, a camisa branca, o laço preto e o chapéu de abas.

Nascido na primeira metade do século, sempre usara caneta de tinta permanente. Para ele as esferográficas eram “objetos diabólicos” que maculavam a beleza da caligrafia. E sem dúvida que a dele era muito bem desenhada naquelas tintas que o aparo fornecia. Ficava perfeita. Tinha uma vasta coleção de canetas, onde meticulosamente deitava a tinta, que depois usava na sua escrita. A profissão obrigara-o a usar a máquina de escrever, ainda tentaram apresentar-lhe o processador de texto do computador, mas, quando se encontrava livre do trabalho, era nas suas belas canetas que ele depositava as palavras e frases que com elas construía.

Era um ser de outros tempos, quase já nem se podia dizer do século XX, talvez da sua primeira metade. Um ser que se sentiria mais ambientado nas primeiras décadas desse século.

À sua volta sobrinhos e irmãos mais novos iam ouvindo mais uma história.

– No ano em que o Benfica ganhou ao Real Madrid na final, e foi campeão europeu, eu acompanhei a equipa para fazer a reportagem para o jornal. Foi um momento irrepetível, e ainda me vejo naquela bancada de imprensa a escrever as anotações que me viriam a permitir compor a crónica daquele jogo único.

E depois no avião a festa que foi, logo desde que descolámos, com os jogadores todos em euforia? Sabem que até houve um que me roubou o meu omnipresente chapéu? Passou por quase todas as cabeças até que eu o consegui recuperar com a ajuda de uma das hospedeiras da TAP. Mas eu, naquela festa toda, até não me irritei muito. Alinhei na brincadeira. Já na altura usava este vestuário, com o qual quero ser enterrado, e ficar sem o chapéu desfigurava-me, mas aquele momento era diferente.

Depois a viagem lá acalmou e eu pude voltar aos meus poemas, que na época começava a escrever. Peguei na caneta, numa folha de papel, e fui escrevendo. Só parei quando pela janela vi o Cristo-Rei e a ponte sobre o rio Tejo. Estávamos a chegar e eu tinha que estar preparado para relatar a saída dos jogadores do avião e a receção da população. Foi fantástico ver aquele povo todo em festa a gritar pelo Eusébio, pelo Coluna, pelo Águas e por tantos outros.

– Mas o tio foi mesmo ver esse jogo? – Questionou um dos sobrinhos para o provocar.

– Não duvidem!

Levantou-se, dirigiu-se a um móvel, abriu a uma gaveta e retirou uma folha amarelecida.

– Este é a folha que escrevi no avião com o poema. Vejam!

Na folha via-se a bela caligrafia a tinta permanente de Luís Grandão. Um conjunto de versos e, sob o derradeiro, a data: Maio de 1962.

Começou a ler o poema.

Voa o meu sonho

Condor de asas metálicas

No hálito do silêncio nublado

 

Poupo-vos ao poema de Luís Grandão, que continuou a sua leitura para toda a assistência, que já habituada, mal o ouvia.

Aqui acaba a narrativa acerca do Luís Grandão. Os seus ouvintes sabiam que aquela era uma história inventada, e, por isso, também se pergunta aos leitores, o que contém a narrativa que faz com que se saiba que esta história não pode ser verídica.

A – Não era possível viajar com aquela roupa no avião nem ao chegar a Lisboa podia ver paisagem descrita.

B – Não era possível escrever aquele poema no avião nem viajar neste com a roupa descrita.

C – Não podia regressar num avião da TAP e não era possível viajar com aquela roupa no avião.

D – Não era possível ver aquela paisagem de Lisboa à chegada nem ter escrito aquele poema no avião.

Pede-se ao leitor que escolha a hipótese que melhor justifica que a narrativa de Luís Grandão era falsa.

 

E pronto.

Estamos na posse do segundo problema do torneio que homenageia o Sete de Espadas, de autoria do confrade viseense Paulo, um dos melhores produtores policiários das novas gerações.

Por se tratar de um desafio de escolha múltipla, os detectives apenas terão de indicar qual a alínea que entendem correcta, impreterivelmente até ao dia 28 de Fevereiro, para lumagopessoa@gmail.com ou, optando pela via postal, Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS.

Boas deduções!


 DO “CAMARADA” À AVENTURA “A LENTE”

 


Depois do Jornal de Sintra, o Sete de Espadas prossegue a divulgação do Policiário em diversas publicações, de maior circulação, fazendo incursão em publicações dirigidas aos jovens, como é o caso, em 1948, do Camarada, uma revista da Mocidade Portuguesa em que as histórias aos quadradinhos marcavam posição.


Terá sido a primeira vez que se dirigiu a um público muito jovem, na secção “Mistério e Aventura” e demonstrou uma habilidade inata que o levou, anos mais tarde, ao Cavaleiro Andante, em 1952 e ao Mundo de Aventuras, em 1975. O Policiário, acreditava, encaixava perfeitamente no perfil dos leitores e consumidores de histórias aos quadradinhos e isso era confirmado pela enorme adesão verificada.



Foi nos anos 50 do século XX que o Sete de Espadas juntou à sua faceta de coordenador e seccionista policiário, a de director e proprietário de uma publicação, com uma experiência, não completamente bem-sucedida, em 1952, com “A Lente”, uma revista muito eclética, género magazine, uma fórmula que mais tarde repetiu com o “XYZ” e a “Glória”, onde cabia literatura, teatro, cinema, rádio e até automobilismo. Os passatempos tinham o seu lugar, Damas, Xadrez, Batalha Naval e também uma das suas marcas registadas, a Liga dos Amigos, neste caso de A Lente, mas que foi uma ideia que o acompanhou em todas as fases da sua vida policiária e que era o retrato daquilo que ele entendia dever ser o Policiário: Um ponto de encontro de Amigos!




 


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