TORNEIO
CENTENÁRIO DO SETE DE ESPADAS
PROVA
N.º 1-B
MEMÓRIAS
Original
de: PAULO
O Luís Grandão foi e é
uma personagem digna de uma obra ficcionada. Do alto dos seus 83 anos vai
debitando memórias, muitas delas com mais invenção do que realidade, que todos
os familiares ouvem com atenção. Luís Grandão foi um jornalista que percorreu
os mais notáveis jornais nacionais deixando a sua marca de escrita em milhares
de folhas de papel. Tanta diversidade de locais percorridos e factos relatados
poderiam levar a pensar que Luís Grandão não tinha necessidade de inventar
acontecimentos para os relatar, mas inventava, o que fazia parte da figura que
ele incarnava.
Na sua personagem existia
também o poeta. Luís Grandão achava-se um vate excecional e por vezes
incompreendido. Gostava de juntar palavras em algo que ele chamava versos que
depois acumulava para fazer um poema. E os familiares lá iam sorrindo de modo condescendente
à sua inspiração artística literária. Sempre o tinham feito, e muito mais o
faziam agora por respeito pela idade de Luís Grandão.
Da sua personagem fazia
ainda parte a roupa que vestia, que funcionava como um uniforme e que ele nunca
abandonara desde antes dos 20 anos. Quem o visse na rua, ou em trabalho, sempre
o encontrava com aqueles elementos de vestuário, e, mesmo em casa, muitas vezes
se encontrava vestido desse modo. Não podiam falhar: o colete cinzento, a
camisa branca, o laço preto e o chapéu de abas.
Nascido na primeira
metade do século, sempre usara caneta de tinta permanente. Para ele as esferográficas
eram “objetos diabólicos” que maculavam a beleza da caligrafia. E sem dúvida
que a dele era muito bem desenhada naquelas tintas que o aparo fornecia. Ficava
perfeita. Tinha uma vasta coleção de canetas, onde meticulosamente deitava a
tinta, que depois usava na sua escrita. A profissão obrigara-o a usar a máquina
de escrever, ainda tentaram apresentar-lhe o processador de texto do
computador, mas, quando se encontrava livre do trabalho, era nas suas belas
canetas que ele depositava as palavras e frases que com elas construía.
Era um ser de outros
tempos, quase já nem se podia dizer do século XX, talvez da sua primeira
metade. Um ser que se sentiria mais ambientado nas primeiras décadas desse século.
À sua volta sobrinhos e
irmãos mais novos iam ouvindo mais uma história.
– No ano em que o Benfica
ganhou ao Real Madrid na final, e foi campeão europeu, eu acompanhei a equipa
para fazer a reportagem para o jornal. Foi um momento irrepetível, e ainda me
vejo naquela bancada de imprensa a escrever as anotações que me viriam a
permitir compor a crónica daquele jogo único.
E depois no avião a festa
que foi, logo desde que descolámos, com os jogadores todos em euforia? Sabem
que até houve um que me roubou o meu omnipresente chapéu? Passou por quase
todas as cabeças até que eu o consegui recuperar com a ajuda de uma das
hospedeiras da TAP. Mas eu, naquela festa toda, até não me irritei muito.
Alinhei na brincadeira. Já na altura usava este vestuário, com o qual quero ser
enterrado, e ficar sem o chapéu desfigurava-me, mas aquele momento era
diferente.
Depois a viagem lá
acalmou e eu pude voltar aos meus poemas, que na época começava a escrever.
Peguei na caneta, numa folha de papel, e fui escrevendo. Só parei quando pela
janela vi o Cristo-Rei e a ponte sobre o rio Tejo. Estávamos a chegar e eu
tinha que estar preparado para relatar a saída dos jogadores do avião e a
receção da população. Foi fantástico ver aquele povo todo em festa a gritar
pelo Eusébio, pelo Coluna, pelo Águas e por tantos outros.
– Mas o tio foi mesmo ver
esse jogo? – Questionou um dos sobrinhos para o provocar.
– Não duvidem!
Levantou-se, dirigiu-se a
um móvel, abriu a uma gaveta e retirou uma folha amarelecida.
– Este é a folha que
escrevi no avião com o poema. Vejam!
Na folha via-se a bela
caligrafia a tinta permanente de Luís Grandão. Um conjunto de versos e, sob o
derradeiro, a data: Maio de 1962.
Começou a ler o poema.
Voa
o meu sonho
Condor
de asas metálicas
No
hálito do silêncio nublado
Poupo-vos ao poema de
Luís Grandão, que continuou a sua leitura para toda a assistência, que já
habituada, mal o ouvia.
Aqui acaba a narrativa
acerca do Luís Grandão. Os seus ouvintes sabiam que aquela era uma história
inventada, e, por isso, também se pergunta aos leitores, o que contém a
narrativa que faz com que se saiba que esta história não pode ser verídica.
A – Não era possível
viajar com aquela roupa no avião nem ao chegar a Lisboa podia ver paisagem
descrita.
B – Não era possível
escrever aquele poema no avião nem viajar neste com a roupa descrita.
C – Não podia regressar
num avião da TAP e não era possível viajar com aquela roupa no avião.
D – Não era possível ver
aquela paisagem de Lisboa à chegada nem ter escrito aquele poema no avião.
Pede-se ao leitor que escolha
a hipótese que melhor justifica que a narrativa de Luís Grandão era falsa.
E pronto.
Estamos na posse do
segundo problema do torneio que homenageia o Sete de Espadas, de autoria do
confrade viseense Paulo, um dos melhores produtores policiários das novas
gerações.
Por se tratar de um
desafio de escolha múltipla, os detectives apenas terão de indicar qual a
alínea que entendem correcta, impreterivelmente até ao dia 28 de Fevereiro,
para lumagopessoa@gmail.com
ou, optando pela via postal, Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109
MARINHAIS.
Boas deduções!
Depois do Jornal de Sintra, o Sete de Espadas prossegue a divulgação do Policiário em diversas publicações, de maior circulação, fazendo incursão em publicações dirigidas aos jovens, como é o caso, em 1948, do Camarada, uma revista da Mocidade Portuguesa em que as histórias aos quadradinhos marcavam posição.
Terá sido a primeira vez
que se dirigiu a um público muito jovem, na secção “Mistério e Aventura” e
demonstrou uma habilidade inata que o levou, anos mais tarde, ao Cavaleiro
Andante, em 1952 e ao Mundo de Aventuras, em 1975. O Policiário, acreditava,
encaixava perfeitamente no perfil dos leitores e consumidores de histórias aos
quadradinhos e isso era confirmado pela enorme adesão verificada.
Foi nos anos 50 do século
XX que o Sete de Espadas juntou à sua faceta de coordenador e seccionista
policiário, a de director e proprietário de uma publicação, com uma experiência,
não completamente bem-sucedida, em 1952, com “A Lente”, uma revista muito
eclética, género magazine, uma fórmula que mais tarde repetiu com o “XYZ” e a
“Glória”, onde cabia literatura, teatro, cinema, rádio e até automobilismo. Os
passatempos tinham o seu lugar, Damas, Xadrez, Batalha Naval e também uma das
suas marcas registadas, a Liga dos Amigos, neste caso de A Lente, mas que foi
uma ideia que o acompanhou em todas as fases da sua vida policiária e que era o
retrato daquilo que ele entendia dever ser o Policiário: Um ponto de encontro
de Amigos!
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