TORNEIO SÁBADO POLICIÁRIO 2020
PROVA N.º 7 PARTE I
O INSP. FIDALGO E O CASO “MARIA”
Maria procurava a solução para um
enigma que a atormentava. O mote fora dado pela queda que lhe aconteceu e a
partir daí foi um corrupio de acontecimentos, cada um mais complicado do que o
anterior. Verdadeiramente já só lhe faltava que a acusassem da prática de
terrorismo e, mesmo assim, parecia não estar essa hipótese afastada de todo.
O caso explica-se por si. Uma moça
terá caído de forma bastante aparatosa na carruagem de um comboio, batido com a
cabeça e ficado amnésica. As pessoas que seguiam na composição, ao que
contaram, correram para ela, mas só duas é que estavam despertas para contar o
que se passou.
O Inspector Fidalgo tomou nota do que
viu e ouviu, mas sem o brilho nos olhos que era habitual quando fazia uma
investigação.
Disse um dos observadores: “O comboio
vinha calmamente, de sul para norte, juntinho ao rio. A linha é das mais
bonitas de Portugal, é magnífica! Se nos chegarmos à janela, a dois passos de
nós temos o precipício e lá no fundo o rio serpenteando. A moça estava sentada
ali, mesmo junto à janela e olhava para o precipício. Tentei meter conversa com
ela, mas deu-me com os pés. De repente levantou-se, foi até à frente da
carruagem, belíssima, com a blusa branca e as calças muito justas, magnífica,
fez uma espécie de dança, olhou fixamente para mim, deu dois passos em frente e
disparou à queima-roupa sobre o desgraçado do tipo que estava ali sentado,
junto à janela, precisamente no momento em que cruzámos com o comboio que
seguia em sentido contrário. A bala estilhaçou completamente o vidro, que se
espalhou pela carruagem e deve ter-se cravado na outra composição. A seguir,
voltou para o seu lugar, tentou abrir a janela, mas desequilibrou-se no momento
em que o comboio rodou à esquerda, rumo à ponte, bateu com a arma no vidro, que
também se estilhaçou e espalhou completamente e depois voltou a oscilar quando
a composição virou à direita, após a ponte, ao retomar a margem do rio. Só
nessa altura ela conseguiu atirar a arma pela janela quebrada, mas acabou por
cair com estrondo e ficou estendida, com a cara contra o chão. Fiquei
completamente petrificado e não tive reacção…”
Disse o outro: “Eu estava no lugar
atrás da moça. Vi-a levantar-se e fiquei a apreciar aquelas curvas
maravilhosas, de quem tem tudo no sítio devido. Ela foi até lá à frente, olhou
para o fundo da ravina, para o rio, voltou-se, a dançar, deslocou-se um bocado
para aquele lado e disparou um tiro no passageiro que lá estava sentado, penso
que a dormir. Depois veio na minha direcção, entrou no seu lugar, bateu na
janela com a arma, o que fez com que milhares de pedaços de vidro se
espalhassem e quando o comboio endireitou a sua marcha, depois da ponte, atirou
a arma pela janela e caiu redonda. Fiquei um bocado à espera para ver se se
levantava e depois fui ver, mas estava desmaiada. Alguém accionou o alarme e o
comboio parou.”
Os outros dois passageiros dormiam e
só foram acordados pelo barulho, atirando-se ao chão quando os outros dois lhes
gritaram para o fazerem… Um deles, já idoso, quase ia tendo um ataque e não
dizia coisa com coisa. O quarto não se lembrava bem do que se passou depois do
sobressaltado acordar, não soube dizer se a moça estava em pé ou deitada, nada.
Só se lembrava do que os outros dois lhe contaram, enquanto aguardavam pela
polícia, e da imagem que lhe ficou de espreitar e ver os outros dois
passageiros debruçados sobre a jovem a sacudir os estilhaços de vidro de cima
dela. Mesmo naquele momento, ainda ficava em grande desconforto só por pensar o
que teria levado uma moça tão querida a um acto daqueles.
A rapariga acabou por ser reanimada
pelo revisor e pelos passageiros. Estava descalça e os sapatos alinhados
debaixo do banco, não escaparam a alguns estilhaços de vidro. Ao levantá-la,
descobriram por baixo um livro policial, “O Crime do Expresso do Oriente”, aberto
na página 121. Não foram encontrados documentos, bagagens, carteira, nada que
fosse dela.
Um enigma a que o Inspector Fidalgo
deu um nome: MARIA!
No fim de tudo, a investigação deu
resultados curiosos.
Apareceram uns tipos da secreta e
levaram a vítima, um espião perigoso, que devia transportar com ele uns tantos
segredos de Estado – falava-se dos planos de localização do futuro aeroporto de
Lisboa! –, mas que não foram encontrados em lado nenhum.
A arma foi recolhida logo após a
ponte, no sítio aproximado onde os dois passageiros disseram, e foi a
responsável pela morte. Só tinha impressões digitais da moça e na coronha
alguns cabelos e células que se verificaram ser dela, também.
O comboio que seguia em sentido
contrário foi atingido pelo projéctil, mas não causou grandes estragos.
A vítima desapareceu. Perdeu o nome –
que nunca se veio a saber, de resto! –, diluiu-se algures nas brumas do
esquecimento.
Os dois estremunhados passageiros que
acordaram à má fila são agora guias turísticos, percorrem as linhas do
“Expresso do Ocidente” a contar as suas aventuras e o crime que quase
presenciaram.
Os dois passageiros que viram tudo,
parece que descobriram a vocação e são agora agentes secretos, tão secretos, que
não se conseguiu saber os seus nomes. Deixaram de andar de comboio e percorrem
as estradas de Portugal atrás de espiões que andam à cata dos planos do Montijo.
A moça, já quase recuperada, continua
no entanto de médico em médico, de relatório em relatório, sem recuperar a
memória dessas horas fatídicas e não sabe o nome, morada ou número do
contribuinte, se é terrorista, vingadora ou outra coisa qualquer. A amolgadela
no cocuruto degenerou para um galo de grandes proporções, que entretanto foi
emagrecendo. Em todos os documentos da investigação, lá está: MARIA!
O Ministério Público parece não ter
grandes dúvidas e aguarda os centésimos relatórios médicos para saber o que
deve fazer.
Finalmente, o Inspector Fidalgo
acabou mais um caso, mas ficou sem saber quem era a moça!
– Fidalgo, já não és o que eras! –
pensava enquanto ia, cansado, a caminho de Marinhais, de regresso ao lar…
E
pronto.
O
Inspector Fidalgo desafia os detectives a decifrarem este caso. Trata-se de um
caso mais difícil, que vai exigir ainda mais cuidado e atenção, mas já todos
sabíamos que o torneio ia tender a complicar-se, à medida que avança para o
final…
Como
sempre, leitura muito atenta, folha de papel e lápis para anotação de tudo o
que parecer relevante e, passo a passo, ir montando o cenário.
Quando
já houver uma continuação da história que pareça credível, há que verificar se
todas as peças encaixam perfeitamente, se não ficam pontas soltas…
Depois,
resta enviar a proposta de solução, impreterivelmente até ao dia 31 de Agosto
para lumagopessoa@gmail.com
ou, optando pela via postal, Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109
MARINHAIS.
Boas
deduções e, sendo caso disso, boas férias!
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