TORNEIO
SÁBADO POLICIÁRIO 2020
PROVA
N.º 6 – PARTE I
FIDALGO
INVESTIGA NO CALOR ALENTEJANO
O calor teimava em
apertar e ninguém parecia ter a noção exacta das dificuldades que se
avizinhavam. O que as pessoas queriam era sol e bom tempo, muita praia e muitos
passeios à beira-mar. Isso sim, era vida boa.
O Lito não pensava assim
e procurava meios alternativos para poder defrontar a seca e a miséria que se
aproximava, porque falta de água era coisa que lhe metia muita impressão.
Costumava dizer que “falta de luz é uma tristeza, mas falta de água é muito
pior”.
A partir de certo
momento, resolveu assumir-se como um combatente das alterações climáticas e
passou a denunciar comportamentos e modos de vida que considerava serem
abusadores da Natureza e, por tabela, de todos os cidadãos deste mundo.
Por isso, começou a
“patrulhar” campos e vales, procurando coisas que ilustrassem o que andávamos a
fazer ao ambiente e a nós todos. Dia após dia, calcorreou caminhos e matas e
foi anotando tudo o que encontrava, de bom e de mau.
Naquele dia fatídico a
sorte abandonou Lito e quando estava na sua meritória acção, caiu fulminado, no
meio de uma enorme tempestade de verão, com chuva diluviana, raios e trovões
arrepiantes. Ironia do destino, pensaram alguns, um combatente contra a seca e
o fogo morrer às mãos da água diluviana e da tempestade.
Mas o Inácio, que andava
por ali e assistiu, de longe, segundo afirma, à queda de Lito, não embarcou na
história e quando mais tarde conseguiu aproximar-se, reparou que ele estava
mais pesado do que seria normal, pelo acréscimo de chumbo com que foi atingido
e esse chumbo não era transportado por tempestades!
– O que eu vi foi o Lito
cair. Estava bastante longe, mas isto é tudo plano, como vê. Demorei mais de 20
minutos a chegar aqui porque para aquele lado, de onde vim, não há caminhos e
vim a corta-mato. Foi uma carga de água dos diabos e fiquei completamente
encharcado e até o chão ficou escorregadio e enlameado. Ao chegar, finalmente,
vi que estava cá o Zé Farófias. Quando olhei lá de longe, vi que estava um
homem com o Lito, mas não vi quem era. Só ao chegar vi que estava cá o Zé. Não
gosto dele nem um bocadinho, tem a mania de deitar fogo a tudo para aproveitar
os campos e não olha a mais nada, quer lá saber se é proibido ou não!
O Zé Farófias disse:
– Não tenho nada a ver
com isto. É verdade que estava mesmo para começar uma queimada, mas mais nada.
Ia fazer arder este terreno aqui para haver pasto para as minhas cabras, mais
nada. Mas eu sou muito cuidadoso e ia vigiar tudo, não pense que não… Depois
começou a trovoada e a chuvada e já não podia queimar. Só vi o Lito a rodopiar
e cair. Pensei logo que tinha sido atingido por um raio. Só depois é que
reparámos, o Inácio e eu, que levara um tiro. De quem, não faço ideia…
O Zé arrancou um pedaço
de palha ressequida para limpar os sapatos brilhantes e um ou outro salpico de
lama, enquanto alisava o casaco que cobria um colete decorado com uma gravata
azul. Estava impecavelmente vestido porque tinha uma escritura para fazer na
vila e estava atrasado.
– Se tudo tivesse
corrido bem, já lá estava. Moro ali abaixo, logo depois daquele morro. São
cinco minutos a andar… Não saí daqui, não tenho telefone e não podia fazer
nada. Como vi que o Inácio vinha lá ao longe, esperei por ele, não podia fazer
mais nada e podia ser que ele tivesse um desses telemóveis que dessem para
falar à polícia. Não tenho arma nenhuma e também não ia andar aos tiros ao Lito,
mas ele tinha muitos inimigos desde que andava armado em polícia a chatear as
pessoas com essas coisas do ambiente e dos fogos. Sempre se fizeram queimadas e
nunca aconteceu nada de mal… Claro que sei que é proibido, mas isso é coisa de
políticos que não percebem nada disto.
Fidalgo, em férias nas
imediações, ouvia-os em silêncio, apontando cada palavra proferida. Ele já
tinha dado uma volta pelas imediações e notara que só havia marcas de quatro
presenças no local, para além das suas próprias. O trajecto de Inácio estava
bem definido, tal como o do Lito e do Zé Farófias, mas havia mais um trilho na
direcção do morro, nos dois sentidos, que talvez fosse a chave para o enigma.
Quem terá disparado
sobre a Lito?
Justifique todas as suas
deduções.
E pronto.
Com os dados lançados, é tempo dos detectives prepararem os seus relatórios
para os enviarem, impreterivelmente até ao próximo dia 31 de Julho para lumagopessoa@gmail.com ou, se a opção for o envio postal, Luís Pessoa,
Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS.
Boas deduções!
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