TORNEIO DO
CENTENÁRIO DO SETE DE ESPADAS
PROVA N.º
1-A
SMALUCO E
A FACA QUE MATA
Original de:
Inspetor Boavida
De novo só, desde que a mulher da sua vida o trocou por um bem
apessoado inspetor da PJ, alto, moreno e de olhos verdes (“Smaluco - um detetive
muito especial”, edições Chiado Boock, páginas 197 a 203), o velho detetive
Smaluco voltou à vida boémia do passado. A noite passou a ser novamente o seu
mundo, convivendo com todo o tipo de vagabundos, batoteiros e loucos. É
respeitado e admirado por todos, o que lhe estimula o ego, mas falta-lhe o amor
de Natália. A saudade que o vai “matando” aos poucos leva-o vezes amiúde ao
teatro, onde ela foi grande, pelo menos aos seus olhos. E foi o que fez há cerca
de um mês, quando soube da estreia da adaptação de uma conhecida obra de
Shakespeare num improvisado palco montado na cave de um edifício de Lisboa.
Três conhecidos atores e um encenador no desemprego decidiram remontar
a peça, sem cenários e com elenco reduzido porque o dinheiro para a produção
era escasso. Os atores desdobravam-se em diversas personagens, enquanto o
encenador acumulava o seu trabalho com as funções de contraregra e aderecista.
Os seus nomes constavam da folha de sala e Smaluco lembrou-se de que eles
estiveram em tenpos envolvidos num escândalo que mereceu destaque inusitado nos
órgãos de comunicação social. Carlos A, Bruno B, Júlio C e Casca D haviam sido conduzidos à
justiça, sendo Júlio C acusado por dois dos seus colegas de ser um tipo
desprezível. Mas o caso acabaria por dar em nada!
A certa altura do espetáculo, vestindo a pele dos seus personagens,
Bruno conspirava contra Júlio, um dos seus melhores amigos, manipulado por
Carlos, um homem ganancioso que conseguiu convencê-lo dos perigos da ambição
daquele. Outros personagens foram também convencidos dos males que adviriam do
que Júlio projetava fazer e manifestaram concordância com o seu assassinato. E
eis que, no início do III ato, os conspiradores esfaquearam Júlio, e este, à
beira da morte, recebeu um golpe final de Bruno. O sangue jorrava da ferida
provocada por este golpe, com Júlio caído no chão, a gritar: “Também tu, também
tu?” Alguma coisa terá corrido mal porque o encenador entrou subitamente em
cena. O pano correu sobre o palco e as luzes da sala acenderam.
Depois de largos minutos de espera, o público saiu em debandada,
protestando veementemente pela forma como decidiram acabar o espetáculo,
truncando a peça e tornando-a quase ininteligível. Smaluco, como amante de
teatro habituado às mais diversas adaptações de textos clássicos, percebeu logo
que o final não seria este se não tivesse acontecido algo de imprevisto. E
dirigiu-se aos bastidores. Quando lá chegou, Júlio era transportado numa maca
para o exterior por pessoal do INEM e Casca, Bruno e Carlos discutiam a um
canto do palco. Aproximou-se destes e ficou a saber que alguém tinha
substituído a faca de lâmina falsa por uma verdadeira. E, ato contínuo,
ofereceu os seus serviços, pedindo-lhes que lhe apresentassem o técnico
responsável pelos adereços.
Casca, o encenador, que conhecia Smaluco de vista e sabia da sua
atividade de detetive, esclareceu que era ele próprio que se encarregava dos
adereços por não haver dinheiro para pagar a um técnico. Acrescentou que só ele
tinha a chave do armazém de adereços e que fora o próprio quem entregara a faca
a Bruno, convencido que se tratava da faca de lâmina falsa. Smaluco soube,
porém, que Carlos havia estado no armazém de adereços, antes do espetáculo,
alegadamente para fazer um telefonema. Entretanto, a PJ fez deslocar para o
local o inspetor Mesquita, o tal que agora vive com a “sua” Natália, e Smaluco
afastou-se de mansinho do local remoendo uma praga de insucesso ao seu rival.
Dias depois, Smaluco ficou a saber, através de um ex-colega, que,
estranhamente, a faca que matou Júlio só continha impressões digitais de Bruno,
que havia confirmado ter recebido a arma das mãos nuas de Casca, nos
bastidores, entrando depois com ela em palco para a cena do esfaqueamento. Nos
documentos de arquivo da produção da peça, soube-se o nome e morada da loja
onde a faca fora comprada, tendo a funcionária que efetuou a venda afirmado, em
processo de reconhecimento presencial conjunto, que tinha a absoluta certeza de
que a pessoa que comprou a única faca do género que vendera na data em que a
fatura foi emitida, véspera do dia do incidente, não foi Bruno nem Casca.
Na manhã do dia de hoje o caso é
notícia de primeira página em todos os jornais de âmbito nacional, onde se pode
ler que, “(...) após um mês de investigações, e depois de lhe ter sido
decretada a prisão preventiva, o encenador Casca D foi formalmente acusado de
tentativa de homicídio do ator Júlio C, durante a representação da peça (...)”.
No matutino que Smaluco tem em mãos, o jornalista que assina a peça tece os
mais rasgados elogios ao inspetor Mesquita, relevando as suas extraordinárias
capacidades de raciocínio e de dedução, considerando-o como o “artificie da
descoberta da verdade”.
Smaluco é acometido subitamente de um ataque de fúria. Amarfanha o
jornal com raiva e deposita-o no lixo, enquanto pronuncia um palavrão
irreproduzível nestas páginas. Ele quer tanto que o seu rival fique mal aos
olhos da “sua” Natália, que teima em não acreditar que o caso foi bem
resolvido. Para dissipar todas as dúvidas, solicitamos a ajuda do leitor: Por
favor, esclareça-nos sobre o que terá acontecido de facto e, já agora, diga-nos
qual era a peça de Shakespeare que estava em cena na noite do triste
acontecimento.
BEM
VINDOS À COMPETIÇÃO!
Finalmente, dirão alguns
dos nossos detectives mais impacientes, iniciamos hoje aquele que vai ser o
“cimento” de todo este ano, o Torneio do Centenário do Nascimento do Sete de
Espadas!
Em homenagem ao maior
divulgador e cultor deste nosso Policiário, que nasceu na vila ribatejana da
Chamusca no dia 1 de Fevereiro de 1921, completando há poucos dias o I
centenário, a prova vai constar de muitos desafios à capacidade dos detectives
e mostrar uma exigência que tem de estar sempre presente quando está em causa
uma investigação que pode ser a chave para a condenação ou ilibação de uma
pessoa suspeita.
O problema de hoje é de
autoria de um dos melhores produtores actuais, o Inspetor Boavida e traz-nos o
seu detective mais famoso, o Smaluco, num caso a exigir alguma procura de
informação e muita atenção aos pormenores do texto e à cena em que se desenrola
o crime.
O problema é um pouco
longo, mas acaba por ser adequado à época em que vivemos mais confinados ao
nosso espaço caseiro e com mais tempo para leituras e interpretações, mas não
obriga a grandes conhecimentos técnicos, como convém num início de torneio.
As propostas de solução
deverão ser enviadas, impreterivelmente, até ao dia 28 do corrente mês de Fevereiro
para lumagopessoa@gmail.com
ou, optando pela via postal, Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109
MARINHAIS.
Boas deduções!
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